RPessica
Galeria digital pessoal e intransferível.
29 de dez. de 2011
27 de jul. de 2011
Galeria do fundo do baú
Mesmo com as imagens pequenas dá pra se fazer um retrospecto dos meus trabalhos.
Flor Confusa
Ano 2000
Óleo sobre colagem de tecidos e madeira.
Copos de Leite espatulados
Ano 2001
Óleo sobre tela
Flor Abstrata
Ano 2002
Óleo sobre tela
Girassol
Ano 2003
Óleo sobre tela em relevo com massa acrílica
Lírios
Ano 2003
Óleo sobre tela texturizada com massa acrílica
Rosa Amarela
Ano 2004
Óleo sobre tela com aplicações de cola em relevo
Farol
Ano 2005
Óleo sobre tela
Papoulas
Ano 2006
Óleo sobre tela texturizada com papel de seda
Rosas
Ano 2006
Óleo sobre tela
Flores Abstratas
Ano 2006
Óleo sobre tela
Natureza Morta
Ano 2006
Óleo sobre tela
Copos de Leite 2
Ano 2007
Óleo sobre tela
14 de out. de 2010
14 de jul. de 2010
Aquarela
Este é do fundo do baú.
Ano 2000, em aquarela, papel Canson A4 e assinatura em forma de rubrica (RPS).
18 de jun. de 2010
16 de jun. de 2010
Dupla exposição
Em tons ígneos e flamejantes, o velho horizonte dita-lhe o mote: 'Alcance-me! Abrace-me! Envolva-me se for capaz.' O pensamento turvo pelo falso fogo reflete-se na ausência de cinestesia¹. Agorafílico² por natureza, contenta-se por hora a contemplar pela janela quem o desafia, agarrando-se, como ultima esperança, à leda sensação de presença no espaço.
O obturador de suas janelas se fecha na expectativa de reduzir o apelo exalado por seu velho inimigo que lhe entra pelos olhos e toma por completo seus pensamentos. No breve momento de penumbra, batalhas antigas se revelam na mente. Todas perdidas. Sem sangue, sem suor, nem cicatrizes. Apenas fraturas não expostas, lacradas na escuridão, prontas para emergirem no dia em que vencesse.
Por toda sua vida perseguiram-se mutuamente - ele declaradamente, seu inimigo em sigilo. Enquanto encalçava o horizonte, este guardava-lhe as costas, sorrateiro e moleque, fingindo ser algo conhecido.
Nesta altura não há mais luta. A gravidade prende-o ao chão e a inércia tomou-lhe as rédeas. Por cansaço pediu trégua, após concedê-la tantas vezes a seu inimigo durante as trevas entre os dois crepúsculos. Agora era seu o ocaso. O lusco-fusco vespertino indicava que seu inimigo havia concedido-lhe o descanso temporário. Mas só um dos dois teria amanhecer.
Seu obturador fecha-se novamente, mais devagar desta vez. Não pelo brilho que lhe entra, mas pelo pensamento que lhe ocorre. Realiza neste instante que na luta travada não houveram vencedores nem derrotados. Aquele inimigo era só seu, de mais ninguém. Se por certo não conseguiu alcançá-lo, este não alcançou-o também. Expõe agora suas fraturas, sentindo-se realizado, e põe-se junto com seu horizonte, seu velho inimigo amado.
Ricardo Pessica
¹ cinestesia: percepção dos movimentos corporais
² agorafílico: que gosta de espaços abertos
Reflexão Infantil
Lembro-me do sorriso no reflexo d´água, ainda que conturbado pelas ondas do chacoalhar do balde. O quintal escorregadio de sabão, a mangueira aberta, o sol de outono amarelo e vermelho mesclado com a névoa da lembrança.
No corpo só a cueca. Vergonha menino não tem. Nem porquê de ter havia. Não se tem vergonha do que não se sabe. E eu só pensava que sabia.
Os passantes se apressavam, não queriam molhar os pés. Afinal, água da calçada faz mal - minha mãe sempre dizia, e diz ainda por sinal.
Dona bonita vem se apressando. Poc, poc, salto alto, onça no pescoço, pressa de chegar a algum lugar. Por detrás da grade da varanda observo como ela anda. Ri-me! Engraçado! Tanta frescura! Quem será que ela quer enganar?
Minha mãe continua a esfregar o alpendre, absorta em seus afazeres. Já era tarde, logo anoiteceria. Eu olho pra ela, nada a distrai. Volto a olhar a dona passante. O comichão começa a brotar de fazer algo que não deveria.
Disfarçado pego a mangueira, caminho até a calçada. Num rápido movimento do esguicho miro e acerto no bicho - deixo a onça molhada! A dona então esbraveja: "Qué isso menino! Tá louco? Me molhando sem motivo?"
Motivos tinha de sobra! Ela apenas não sabia, e nem queria saber. Nessas horas minha mãe entra no assunto vermelha de vergonha pela cria mal-educada, pedindo desculpas por mim, dizendo: "Foi sem querer!"
Se torcendo de raiva a mulher continua a caminhar. Se foi pra não sei onde, espero nunca saber. Minha mãe então pergunta: "O que aconteceu, meu filho? Por que fez esta barbaridade?" Inocente, sem saber das consequências, respondo sinceramente: "Não sei, só me deu vontade!"
Ricardo Pessica